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Flamengo x Rede Globo: Uma briga onde os dois lados podem perder milhões





Fonte da matéria MUNDORUBRONEGRO

A Medida Provisória pode ser benéfica para o Flamengo, mas se houver compreensão de que a Globo não é inimiga e sim uma parceira

Blog Ninho do Urubu | por Bruno Guedes

Há cerca de duas semanas uma grande polêmica tomou conta do futebol brasileiro por conta da Medida Provisória 984/2020. E ela afeta diretamente duas das partes mais importantes do setor esportivo no país, o Flamengo e a Rede Globo. Enquanto as opiniões se dividem, juristas debatem sobre o assunto. Mas antes que se faça qualquer generalização é preciso entender sobre o assunto e alertar: os dois lados saem perdendo sem um acerto justo. E são milhões de reais.

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A MP 984 foi editada pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 18 de junho e altera os direitos de transmissão e a duração do contrato de trabalho de atletas durante a pandemia da covid-19. Ainda que esteja em vigor desde a sua assinatura, ela ainda precisará ser votada pelo Congresso. Comemorada pelo Flamengo e deixando muitas dúvidas em outros clubes, tocou no polêmico assunto desde a promulgação da Lei Pelé, em 1998.

Entendendo a MP 984:

Para que uma partida seja exibida é necessária a concordância do mandante e do visitante. Na prática, as emissoras precisam comprar os direitos de transmissão dos clubes que se enfrentam. A MP modifica esse formato, valendo apenas a anuência do mandante do jogo para exibição. A Medida vale por 60 dias, prorrogáveis por mais 60. Entretanto, se o Congresso não apreciar a pauta em 45 dias, ela entra em caráter de urgência e nada mais é votado até que haja deliberação sobre o assunto.

O Flamengo lutava pela causa desde que não houve acerto sobre a venda dos direitos do Campeonato Carioca e, ainda assim, não podendo exibir suas partidas. Prejuízo financeiro para o clube e patrocinadores, mas também para a Rede Globo, parte negociante. A maior oferta feita pela emissora foi – e recusada pelo clube – de R$ 18 milhões. Esse prejuízo de ambos os lados é apenas um pequeno exemplo de como a falta de diálogo entre as duas partes pode gerar uma bola de neve ainda maior e todos perderem muito dinheiro.

Globo e Flamengo: um contrato com as maiores cifras do continente

Com exceção do Carioca, o Flamengo já tem vendido seus direitos do Brasileirão até 2024. Assinado ainda no último semestre da gestão Bandeira de Mello, ficou acertado que o clube da Gávea receberia R$ 120 milhões anuais até o fim do contrato, corrigidos pela variação monetária de cada ano, totalizando R$ 720 milhões. Junta-se aí a premiação na hora de firmarem, as chamadas luvas, de mais R$ 120 milhões.

Além deste entendimento, o novo contrato da Globo com os clubes prevê que 38% de todo dinheiro da venda com o Pay Per View, o PPV, seja repassado pelos clubes de acordo com o número de torcedores contratantes. Isto é, quanto mais assinantes se declarem torcedor de um determinado clube, mais ele ganhará desta porcentagem. E, neste caso, é o Flamengo.

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Na última temporada o Rubro-Negro conseguiu ao todo R$ 342 milhões neste formato. São R$ 120 milhões a mais que 2018. Para se ter ideia do montante, o segundo colocado foi o Palmeiras, com R$ 216 milhões. Ou seja, menos de 70% do total do Flamengo. Valores que foram decisivos para que Landim e sua diretoria pudessem montar a equipe campeã de quase tudo na última temporada.

De acordo com o balanço divulgado pelo clube, a receita em 2019 foi de R$ 910 milhões. Ou seja, quase 40% de tudo que arrecadou no ano passado veio dos direitos de transmissão. Junta-se a esse valor assustadoramente alto os R$ 300 milhões que saíram das vendas de jogadores. Para montar o time vencedor foram gastos R$ 209 milhões, onde R$ 78 milhões ainda estão em parcelas futuras. É preciso conhecer esses números para entender o que vem a seguir se não houver diálogo entre as duas partes.

A Turner, concorrente que também adquiriu os direitos de transmissão dos jogos, tem suas cifras variando entre R$ 6,8 e R$ 27 milhões e entre audiência (25%) e premiação (25% restantes): R$ 30 milhões cada cota. Entre os que fecharam acordo com a empresa está o terceiro colocado, Palmeiras. Tais valores representam, portanto, quase R$ 100 milhões a menos que o contrato com a Globo.

O desejo da diretoria de poder vender seus direitos para qualquer interessado é não só importante, como tendência mundial. Principalmente com meios cada vez mais inovadores surgindo, como os streamings e as redes de TV próprias dos times. Na Europa, mercado onde as transmissões são vendidas mundo afora, na maioria dos países é no formal que a MP tenta implantar. 

Flamengo e Globo são parceiros, não inimigos

Porém, nem tudo pode ser visto apenas com o olhar do otimismo exagerado. O Flamengo projetava, antes da pandemia, uma receita de R$ 672 milhões para 2022. As cifras da TV entrariam com R$ 283 milhões ou 42% de tudo. Uma participação maior ainda que na temporada passada. Com a queda nas arrecadações com bilheteria (representaram R$ 114 milhões em 2019) e sócio-torcedor (R$ 62 milhões), as únicas certas para este novo ano são as da Globo, mesmo sem a transmissão do Campeonato Carioca.

Com a nova MP o Flamengo poderia negociar diretamente com quem quisesse os 19 jogos do Brasileirão. Entretanto, como não estamos falando de ONG mas sim de uma empresa com fins lucrativos, a Rede Globo também diminuiria os valores envolvidos ou até mesmo abriria mão de assinar um contrato. E é aí que mora o perigo para os dois lados.

O cenário atual de transmissão esportiva no Brasil não vive o seu melhor momento. Apesar de algumas opções, a maioria acontece em plataformas onde a maioria da população não tem acesso, tipo internet e  TVs a cabo. A grande massa, principalmente em se tratando de Flamengo – que atinge 100% do território – mais ainda. Qual emissora pagaria todos esses valores citados anteriormente? E qual delas conseguiria alcançar todos os 45 milhões de torcedores e rivais que assistem, mesmo que na torcida contra? 

Veja também: Com a lei atual ao seu lado, a situação do Flamengo é mais complexa do que aparenta

O contrato assinado com a Globo em 2018 foi crucial para que Landim pudesse dar um cheque quase em branco para Marcos Braz e Bruno Spindel montassem o time que amassou quase todos na última temporada. Mesmo com ela foi inevitável aumentar a dívida, compensada pelos troféus e dentro do aceitável pelos rumos tomados. Mas e para o futuro, caso não haja entendimento entre as partes?

A Globo, por outro lado, sem o Rubro-Negro vende um bolo sem recheio. Seria como vender o Campeonato Espanhol sem o Barcelona ou Real Madrid. Exibir as Olimpíadas sem os atletas dos EUA. A Fórmula 1 sem a Ferrari. O que atrai os muitos patrocinadores para a emissora é justamente a gigantesca audiência possibilitada pelo Flamengo. Sem ele, certamente, muitos perderão o interesse.

Tal contexto mostra o quanto as televisões ainda são importantes. No mundo todo, aí vai desde o Japão até a Argentina, são através das TVs que o público assiste as partidas. E será por algumas décadas. Não há vencedor em uma guerra de provocações e falta de diálogo.

A Medida Provisória pode ser benéfica para o Flamengo, mas se houver compreensão de que a Globo não é inimiga e sim uma parceira. E neste cenário a emissora também sabe que sem o clube perderá dinheiro, audiência e relevância esportiva. Sentem-se à mesa de negociação, senhores. Deixem os bancos dos tribunais para as causas realmente irrevogáveis.

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*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Divulgação

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