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De 1999 a 2019: a minha vida como torcedor e uma paixão chamada Flamengo





Fonte da matéria MUNDORUBRONEGRO

Parece que estamos em um bom caminho. Que bom, pois está provado que quando as coisas são bem feitas é tudo nosso

MRN Informação | Adriano Leite – Twitter: @adrianoleite

Neste, que é o meu primeiro texto para o Mundo Rubro Negro, gostaria de dividir com o leitor um pouco da minha história como torcedor (de 1999 a 2019), com intuito de provocar a mesma reflexão em cada um – não importa a idade – e também para analisarmos o Flamengo, que, segundo alguns, depois dos anos 80, só passou a ganhar em 2019. Outro ponto que vale lembrar aqui são os três anos especiais terminados em 9 (99, 2009 e 2019). Cada um com o seu significado. Todos mostrando a força do Mengão.

Nasci em 1987 (que ano! Haha), mas demorei um pouco para ter interesse por futebol. Posso dizer que só em 99 passei a acompanhar com assiduidade, mas eu já sabia o que estava acontecendo ao ver o Vasco ganhar o Brasileiro de 97 e a Libertadores de 98. Mesmo sem ser grande entendedor, fui feliz no Mundial de 98, no qual o bacalhau foi vice também. Mas começo pelo ano de 1999, pois foi o primeiro ano em que eu tive condição de ver todos os jogos do Fla e dali para frente foi sempre assim. Serei, então, bastante detalhista ao falar desse ano porque foi especial. O Flamengo de 1999 tinha um treinador com muita história no clube, como sabem, o grande Violino, alguns pratas da casa promissores e um time muito raçudo. Tinha uma fera também: Romário. E o time, que era bem limitado, dependia muito dele. Chegou a final do Estadual e tínhamos pela frente aquele Vasco, que, em títulos, era o melhor time da história deles. Afinal, tinha ganhado a Libertadores de 98, como falei anteriormente.

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Por ter a melhor campanha o rival jogava por dois empates. No primeiro jogo jogamos muito desfalcados para dificultar ainda mais nossa missão, mas fomos buscar o 1 x 1. Eu estava morando em Macapá nesta época e, para quem não sabe, a capital do Amapá é como se fosse um Rio de Janeiro menor. Flamengo e Vasco são as maiores torcidas da cidade que realmente vive o clima de qualquer decisão de campeonato envolvendo os dois clubes. Após o jogo, eu não entendia muito o motivo da nossa torcida estar mais animada que a do rival, e meu padrasto me explicou: “somos muito inferiores tecnicamente, estávamos sem muitos jogadores, se a gente perdesse (estávamos perdendo), seria muito difícil de buscar no segundo jogo”. Fomos então para grande final, o segundo jogo. Logo no começo perdemos Romário, o time sentiu bastante juntamente com a torcida e o primeiro tempo terminou 0 x 0, sem grandes chances. No intervalo, nossa torcida cantava muito e empurrou absurdamente o time para o segundo tempo. Aquilo me emocionou e me impressionou de tal forma que lembro como se fosse hoje. As chances vieram, até gol mal anulado do Beto teve e aos 30, na falta do Rodrigo Mendes, saiu o gol do título. Eu posso dizer, amigos, que nesse dia eu soube, de cara, o que é Flamengo. Eu contava para as pessoas o roteiro dessa história como se fosse um filme, como se o roteiro tivesse sido sobrenatural. Eu estava encantado. Quem for mais novo, entenda, estadual ainda significava muito. E vejam: ano passado o Vasco perdeu os dois jogos da final do Carioca contra um dos melhores times da nossa história, depois tomou 4 x 1 no brasileiro. Em seguida, empatou em 4 x 4 e comemorou MUITO um resultado que não mudou nada na sua vida. Imagina ser campeão em cima de um rival com todo esse roteiro que citei e sendo tão mais fraco? Mas não acabava por aí: fizemos uma campanha histórica na Mercosul e no fim do ano batemos o Palmeiras que era… o campeão da Libertadores de 99. Ganhamos essa Mercosul de novo sem Romário. Os dois jogos da final foram pra lá de emocionantes, um 4 x 3 no Maraca e um 3 x 3 no campo deles. Ficava evidente para mim o peso do manto.

O Vasco foi um dos melhores times do Brasil ainda por um tempo, mas foi vice de novo no Carioca de 2000 (tomando um passeio do Fla) e em 2001, em mais uma final histórica. Ali precisávamos vencer por dois gols no jogo final, mas pelo menos tínhamos um time para brigar de igual para igual. Se 99 teve um roteiro de cinema, imaginem em 2001, aos 43, da forma que aquela bola entrou para chegarmos ao 3 x 1 que, no fim das contas, foi conquistado em 45 minutos, já que o primeiro tempo terminou 1 x 1. A diferença é que naquele ano eu já sabia bem do que o Flamengo era capaz e é mais fácil de ver a mágica acontecer quando seu time é do mesmo nível do rival. Na hora da falta, lembro que acreditei muito e lembrei do Rodrigo Mendes, lembrei do Zico em todos os vídeos que já tinha visto e.. fomos felizes. Flamengo tricampeão! Aliás, quando se trata de Estaduais não sabemos o que é perder final desde 1995 (sempre lembrando que em 95 era um octogonal, mas ambos poderiam ser campeões naquele dia, então considero final). O Flamengo chegou e levou em 99, 2000, 2001, 2004, 2014 e 2019 (contra o Vasco), 2007, 2008 e 2009 (contra o Botafogo) e 2017 e 2022 (contra o Fluminense). Ainda foi campeão invicto sem necessidade de final em 2011. Mas, voltando ao ano de 2001, eu já tinha visto o Flamengo conquistar um título internacional, faltava um nacional. E ele veio. Vencemos ainda naquele ano a Copa dos Campeões. Éramos campeões em cima de um São Paulo que tinha Rogério Ceni, Beletti, Kaká, Júlio Baptista, França e Luís Fabiano. Quer mais?

Os anos passaram, títulos vinham (vários citados acima), mas havia uma grande frustração por ver um Flamengo tão mal administrado (e isso acontecia desde os anos 90). O torcedor rubro-negro sabia do peso da camisa, da torcida, do clube, mas cada vez ficava mais claro que para voos mais altos era necessário o clube se profissionalizar. E vimos cada time sofrido, não foi? No meio disso tudo, em 2009, veio um título brasileiro conquistado na base do “deixou chegar, f…” como em 92, último ano que tínhamos ganhado o Brasilerão até então. Já eram 17 anos de jejum. Naquele ano, foram várias decisões dentro de um campeonato de pontos corridos, sendo duas fora de casa contra rivais diretos na briga, e fomos campeões ganhando uma a uma até o título no jogo final contra o Grêmio. Foi a maior arrancada da história, foi a cara do Flamengo. Foi épico. Mas ali nós tínhamos um bom time, nada mais do que isso. A pontuação final mostrou. Não ganhamos por termos “arrumado a casa”. Ela não estava arrumada. E só ficava evidente, novamente, uma coisa: o Flamengo minimamente encaixado é muito difícil de bater, e quando há a famosa conexão entre torcida e o time então… nem se fale. Isso só me fez sonhar ainda mais com o dia em que o Fla se organizasse. O fato é que, com toda a dificuldade, vencíamos novamente um brasileiro. Era o primeiro que eu via. Ufa! Choro no gol do Angelim.

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De 99 a 2019, ganhamos duas Copas do Brasil, sendo a última, em 2013, uma conquista na base da superação também. Um título na base do “deixou chegar, f…” de novo. É uma marca nossa, sem dúvida alguma. 2013 marcou, pois era o começo da nossa estruturação, de quando o clube começou a pagar as dívidas e, portanto, não tínhamos mesmo como ter um time do nível do Cruzeiro, por exemplo, que eliminamos nas oitavas. Parece que só aconteceu de sermos campeões pelo fato do Flamengo não poder ficar muito tempo sem títulos importantes. Foram muitos anos duros, muitos anos brigando para não cair, vexames na Libertadores, decisões de Copa do Brasil batendo na trave, porém, a sensação que eu tinha é que chegávamos em lugares que não tínhamos a mínima condição de estar com a estrutura que tínhamos, sem pagar salário em dia, priorizando ainda um carioca em vez de a Libertadores em alguns momentos e com treinadores e times muito medíocres, especialmente para a Libertadores e para um campeonato como o Brasileiro. Em alguns anos o Flamengo tinha time para disputar a Série B mesmo, então, tanto ele se classificar para participar da Libertadores como em todas às vezes que escapou de cair pra série B nesse período, a nossa única certeza era: essa camisa pesa. E como o Flamengo ainda ganhava títulos? Essa camisa…

Após, uma sequência de participações ruins e péssimas na Libertadores, ouvi muita gente dizer que o Fla e a Libertadores não combinam, que o clube não tinha tradição internacional. Mas eu tinha convicção de que quando tivéssemos profissionalismo no futebol iríamos voltar a vencer a competição. Com Abel no comando com certeza não iríamos triunfar, mas com a vinda de Jesus tudo mudou! E quando passamos pelo Emelec já ficou uma cara de deixou chegar…

Em 2019 foi lindo o 5 x 0 em cima do Grêmio na Libertadores (dizem também que eles são copeiros e nós não somos, mas há décadas o Grêmio só perde em mata-mata contra o Fla) e a nossa final foi a mais emocionante da história, contra um clube poderoso como o River (que mandava na América do Sul nos últimos anos) para ficar bem clara a nossa força e acabar com todos os mitos (aliás, há quem invente que não tinham clubes argentinos em 81 e é uma grande mentira, mas tudo bem, fomos campeões de novo e contra um dos maiores deles). Posso dizer seguramente que essa final foi o melhor momento da minha vida e acho que de muitos que estão lendo. O que ganhamos, de quem ganhamos, como ganhamos e depois de tanto tempo! Mas essa epopeia nem vou descrever, está tudo bem claro nas nossas mentes. No Brasileiro, esquece o Flamengo que ganhava apenas na camisa: o Flamengo atual disse: “Eu tenho profissionalismo, eu tenho qualidade, eu tenho técnico”, e o Universo disse: “Como você tem torcida presente e camisa também, 90 pontos, recordes e tabus quebrados para você. Chegou a hora de ganhar na boa, você merece”.

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Eu moro em Curitiba e foi bem inesquecível aproveitar a vinda do meu padrasto e ir até a Arena da Baixada para ver a nossa primeira vitória em Curitiba contra o Athletico no seu estádio em Brasileiros. E primeira vitória sobre eles aqui depois de 45 anos em Brasileiros. Atuamos sem Gabigol, Arrascaeta, além de 45 minutos sem Rafinha. Foi sofrível aguentar o Rony em cima do João Lucas (risos). Mas deu tudo certo, foi mais um ano terminado em 9 com mais de um título, sendo que dessa vez foram três títulos (dois deles dos mais importantes). 99, 2009 e 2019, anos de “Flamengos” muito diferentes, mas todos orgulharam e representaram. Para mim, ainda teve a experiência do laço familiar com meu padrasto (que é meu pai no final das contas), que me mostrou o que era Flamengo e viveu muitos desses títulos comigo, a começar por 99. Melhor ainda é que ele nunca me impôs o rubro-negrismo: ele mostrou, ensinou, mas foi o amor à primeira vista que prevaleceu, além da minha identificação com a camisa, torcida e a superação desse clube nos momentos difíceis. Agora vamos em busca de mais títulos, muita gente ainda não viu o Mundial. No ano passado, enfrentamos uma máquina, era muito difícil, mas o Flamengo me orgulhou perdendo só na prorrogação, sendo que tinha feito muito mais jogos no ano e era bem inferior tecnicamente. Não sou de romantizar derrotas, nós não somos, nossa história não permite isso, mas os fatos precisam ser ditos. Que possamos voltar mais fortes para mais um mundial em breve!

Não vamos ignorar 2022, ano terrível por conta da pandemia, mas que nos consolidamos como um grande time ganhando 3 títulos num ano em que pouco tivemos futebol. Já temos um título estadual, nacional (Supercopa do Brasil) e internacional (Recopa). O primeiro vencendo os dois jogos da decisão, o segundo ganhando de 3 x 0 e por último: o título internacional indo pra Gávea com o Fla vencendo por 3 x 0 com um jogador a menos em boa parte do segundo jogo da decisão. Ficou evidente, assim, como o Flamengo está sobrando. O dia em que o Flamengo estaria com a casa arrumada realmente chegou, mas o desafio agora é manter tudo isso. No futebol não há tempo para cochilo, então fazer as escolhas certas e depender cada vez menos de determinados profissionais como Jesus (que já foi), Marcos Braz, entre outros, é fundamental. Temos estrutura, pagamos bem, em dia, temos um trabalho que foi bem feito pelo Jesus, temos contratações que deram certo, mas agora precisamos ter um projeto para que as pessoas passem e a filosofia continue. Para que não seja jogado tudo fora. Parece que estamos em um bom caminho para que isso aconteça. Que bom, pois está provado que quando as coisas são bem feitas é tudo nosso. SRN!

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